sábado, 18 de fevereiro de 2012

Epitáfio

“Quem é essa garota”?
“Quem é essa menina”?
“Ela é uma cadela”.
“Ela é a Valentina”.
Era assim que eu costumava brincar com ela.

Quando tive a ideia de criar esse espaço, pretendia contar, transformar em palavras, as travessuras e estripulias de minha pequetetucha. Por uma série de motivos, essa proposta inicial nunca se concretizou.

Agora, volto a escrever para tentar dar algum sentido à dor que sinto. Algo muito triste aconteceu. Minha filhotinha já não está mais entre nós. Valentina nos deixou no dia 14/02/2012, às 21h45min, com apenas 2 anos, 7 meses e 23 dias, vítima de uma hepatopatia fulminante (provavelmente congênita) que se transformou em cirrose hepática em pouquíssimo tempo.

Não foi por falta de amor ou de cuidado que nosso amorzinho partiu. Infelizmente, tudo aconteceu muito rápido, surpreendendo até a médica veterinária que cuidava dela. Foram utilizados todos os recursos disponíveis em medicina veterinária: exames, medicamentos e rações. E muito amor. Não houve economia de amor nesse caso.

Valentina já vinha apresentando problemas no fígado, mas estava sendo tratada. Ela estava se mantendo com medicação e ração específica para o problema. Quinze dias antes de seu quadro agravar, ela havia sido avaliada pela médica. Realmente ela estava indo bem. Mas, bastou que a médica se ausentasse por 15 dias para o quadro se agravar rapidamente.

Na madrugada de 03/02, minha pequena se apresentou agitada, não conseguia dormir. Ao longo do dia, ficou menos agitada, mas algo estava errado com ela. À noite, Valentina apresentou uma reação alérgica, com edema sob o queixo. Dei-lhe um antialérgico veterinário e corri para a clínica veterinária. Chegando lá, o edema estava se desfazendo. A médica de plantão a examinou, confirmou a reação alérgica e observou que Vává estava bastante ictérica (pele e olhos amarelados devido ao problema do fígado). Aquilo realmente me preocupou, pois a icterícia (síndrome caracterizada por excesso de bilirrubina no sangue e deposição de pigmento biliar na pele e membranas mucosas, do que resulta a coloração amarela apresentada pelo paciente) estava menos acentuada.

No dia 07/02, a médica de Valentina retornou do breve recesso. Após exame, verificou o agravamento do quadro. Então, indicou soroterapia e aplicação de medicação por 5 dias. Nesse mesmo dia, solicitou que fosse realizada nova ultra-sonografia, que foi realizada no dia seguinte. Infelizmente, as notícias não eram boas. O quadro realmente estava muito grave, a situação era terminal. O agravamento galopante do quadro impressionou os médicos.

Antes de nos deixar, a pequenina ficou internada por 4 dias na clínica veterinária (de 10/02 a 14/02/2012). Valentina era muito apegada a mim e a minha mãe. E nós a ela. Cada vez que eu a visitava, era um sofrimento só. Eu tentava controlar a tristeza, mas era muito difícil ver aquele focinho fofo e indefeso me pedindo para voltar para casa. Pior, saber que ela poderia não mais voltar para casa.

Quando na véspera de sua alta e partida a visitei, ela pareceu muito espertinha. Informaram que ela havia tomado água, se alimentado e que não mais vomitava nem evacuava sangue. Senti um certo alívio. Peguei-a no colo, dei-lhe muitos beijinhos naquele focinho lindo e prometi que nunca a deixaria só. Ela estava no CTI e o tempo de visita é curto por motivos óbvios. Tive que voltar para casa. Mas tive uma sensação de que no dia seguinte ela estaria bem, que receberia alta e voltaríamos para casa. Ao mesmo tempo, enquanto caminhava para casa, tive a impressão que aquela melhora era apenas para que meu alívio a deixasse partir com menos sofrimento. Achei que era o que muitos chamam de “melhora da morte”, ou seja, situação de melhora do quadro clínico que proporciona certo alívio aos entes queridos, permitindo que o adoecido possa desencarnar em paz, sem as lamentações daqueles que ficam.

No dia 14/02, Valentina recebeu alta, mas já não estava espertinha como no dia anterior. Parecia desvitalizada. Trouxe a minha pequenina para casa. Eu estava muito feliz de tê-la de novo em casa. Apesar de estar molinha, ela também parecia entender que estava voltando para casa.

Chegamos em casa. A médica havia orientado que ela comesse carninha ou peito de frango moídos, pois o quadro era terminal e o mais importante era que ela comesse. Corri ao supermercado para comprar peito de frango e carne bovina para ela. Limpei, moí e preparei. Ela aceitou um pouco de carne moída passada na frigideira. Bebeu água. Mas, alguma coisa não estava bem mesmo. Passamos o dia.

À noite, ela estava inquieta. Meu coração dizia que talvez aquela fosse nossa última noite juntas nessa vida. Valentina começou a se sentir mal, tinha dificuldades de respirar. Ao perceber isso, não tive muito mais o que fazer além de colocá-la em uma posição mais confortável. Ela vomitou. Eram seus últimos momentos conosco. Pedi a Deus que a levasse sem sofrimento, pois ela não merecia sofrer (nenhum animal não-humano merece sofrer).

Às 21h45min, ela deu seu último suspiro. Disse-lhe apenas “Vá com Deus”!

Que Deus a proteja e a coloque em um bom lugar, pois “todos os cães merecem o Céu”. Que, quando eu desencarnar, possa ter a oportunidade de reencontrá-la, bem como aos outros amigos de 4 patas que tive ao longo da vida. Que seu retorno à Terra seja protegido, que ela ache pessoas que a tratem bem e a amem tanto quanto nós a amamos.

Fique em Paz, minha Valentina!